“... Nasce o Sol, e não
dura mais que um dia,
Depois da Luz, se segue a
noite escura,
Em tristes sombras morre a
formosura,
Em contínuas tristezas a
alegria.”
Gregório de
Matos
“Procissão Noturna”
S
|
empre
a noitinha no leito de seus filhos sonolentos as mães cantam velhas cantigas,
sussurradas pelo vento. Uma delas muita antiga se referia ao contento a vida de
uma menina moça na idade de casar, que de dia vivia a dormir sem nada fazer do
trabalho do lar. E na noite brilhante manhosa levantava ela jocosa, a se
debruçar na janela grande de madeira lustrosa. A história assustadora que lhe
contarei agora começa do início do já foi outrora, pois como todas as lendas
vêm e vão, com esta não seria diferente. Sempre acrescentam, ou retiram nos
disseres do povo fatos que não lhe são convenientes. Então vamos começar de
novo o que a noite sussurrou pra gente:
“Florzinha, Florzinha, moça nova
pouco vivida.
Bem tratada e bonita.
Dormia de dia, e acordava a
noite.
Para
em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Em casa nada fazia,
Só escutava sem atenção sua Mãe a
reclamar
À noite quando não farreava nada
fazia.
Sua Mãe cansava de avisar
Florzinha, Florzinha, está na
hora de casar.
De casa nada sabia, e isso não a
preocupava.
Só queria à noite acordar
Para
em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Uma noite muito sombria
Ela viu se aproximar
Uma procissão misteriosa que
baixinho estava a rezar
Muitos eram seus integrantes, e
longas batinas negras a usar.
Longas velas seguravam em plena
noite de luar
E assim curiosa só queria à noite
acordar.
Para
em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Da procissão ninguém nada sabia,
Inclusive uma tia pediu a
Florzinha que se benze-se
Porque com os seres da noite não
se deve brincar.
Mas ela nem se importava e
Noite após noite, ela ficava a
observar.
A procissão noturna que baixinho
passava a rezar
Longas velas seguravam em plena
noite de luar.
Certa noite, as horas já passavam
altas.
E todos estavam a dormir, a
procissão demorava.
Mas Florzinha persistia em
esperar.
E daí então num lampejo de trovão
Apareceu a procissão
Como se do além viesse desfilar
Longas velas seguravam em plena
noite de luar
Florzinha curiosa num salto da
janela à procissão foi se juntar
Nem à noite nem as rezas
conseguiam lhe amedrontar
Sua curiosidade foi tamanha que
ao cortejo foi se juntar
Pois precisava de uma prova da
existência
Da procissão noturna que ninguém
ouvira falar
E ao último integrante Florzinha
sozinha venho a perguntar
-
De
onde vem este cortejo? Que a ele quero me juntar.
Perguntou a menina moça que junto
à procissão estava a andar.
Pois nem à noite nem as rezas
conseguiam lhe amedrontar.
Do encapuzado o rosto não se via,
só se escutava uma reza baixa em harmonia.
Insistentemente perguntou a
menina novamente
Ao encapuzado misterioso na noite
sombria estridente
A menina ficou para trás
O cortejo passou e nada foi
esclarecido
Foi sumindo no véu negro da noite
Mas sua mente não parava de
pensar
No cortejo misterioso que passava
em noite de luar
E com ansiedade ela esperou a
amiga noite retornar
Para
em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Uma noite muito sombria
Novamente ela viu se aproximar
A procissão noturna que baixinho
passava a rezar
Muitos eram seus integrantes, e
longas batinas negras a usar.
Longas velas seguravam em plena
noite de luar
Nem à noite nem as rezas
conseguiam lhe amedrontar
Pois sua curiosidade foi tamanha
que ao cortejo ia se juntar
Mas dessa vez o último integrante
Florzinha viu se aproximar
E apesar de curiosa sentia seu
sangue congelar
E um medo aterrador dela venho se
apossar
- Se tu
entre nos queria, agora poderá estar, em nossa eterna busca aos espíritos
Perdidos
das noites de luar.
A menina congelada nada conseguia
falar
E o estranho encapuzado uma vela
a ela foi entregar
Em sua mão quase descarnada que
estava a segurar.
O cortejo passou e nada foi
esclarecido
Foi sumido no véu negro da noite
Florzinha com a vela em suas mãos
Agora poderia provar
A existência procissão noturna
Que passava em noite de luar
Retomada alegremente guardou o
seu presente
Em uma gaveta do armário.
Pois sabia que no dia poente
agora poderia mostrar
Uma prova da existência da
procissão noturna que passava em noite de luar.
Assim que o sol raiou imponente
Num salto Florzinha levantou-se
rapidamente
E com extrema ansiedade sua prova
na gaveta do armário foi pegar
Sua Mãe levou um susto quando
ouviu grito aterrador da casa se apossar
E em direção ao quarto de
Florzinha correndo foi verificar
De onde vinha este grito que a
todos queria assustar.
Chegando lá amedrontada ela viu
Florzinha caída desmaiada
E no chão do seu lado viu um osso
de defunto jogado”.
A
prova que Florzinha tanta queria venho dobrado, pois provara muito mais que a existência
da procissão noturna.