Saudações tenebrosas...

Você ultrapassou o portal da realidade... Seja bem vindo(a) á um mundo onde os contos criam vida, mesmo quando falam de morte...

Sidney Leal

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Procissão Noturna


“... Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.”
Gregório de Matos

       
“Procissão Noturna”

S
empre a noitinha no leito de seus filhos sonolentos as mães cantam velhas cantigas, sussurradas pelo vento. Uma delas muita antiga se referia ao contento a vida de uma menina moça na idade de casar, que de dia vivia a dormir sem nada fazer do trabalho do lar. E na noite brilhante manhosa levantava ela jocosa, a se debruçar na janela grande de madeira lustrosa. A história assustadora que lhe contarei agora começa do início do já foi outrora, pois como todas as lendas vêm e vão, com esta não seria diferente. Sempre acrescentam, ou retiram nos disseres do povo fatos que não lhe são convenientes. Então vamos começar de novo o que a noite sussurrou pra gente:


“Florzinha, Florzinha, moça nova pouco vivida.
Bem tratada e bonita.
Dormia de dia, e acordava a noite.
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Em casa nada fazia,
Só escutava sem atenção sua Mãe a reclamar
À noite quando não farreava nada fazia.
Sua Mãe cansava de avisar
Florzinha, Florzinha, está na hora de casar.
De casa nada sabia, e isso não a preocupava.
Só queria à noite acordar
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar

Uma noite muito sombria
Ela viu se aproximar
Uma procissão misteriosa que baixinho estava a rezar
Muitos eram seus integrantes, e longas batinas negras a usar.
Longas velas seguravam em plena noite de luar
E assim curiosa só queria à noite acordar.
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Da procissão ninguém nada sabia,
Inclusive uma tia pediu a Florzinha que se benze-se
Porque com os seres da noite não se deve brincar.
Mas ela nem se importava e
Noite após noite, ela ficava a observar.
A procissão noturna que baixinho passava a rezar
Longas velas seguravam em plena noite de luar.

Certa noite, as horas já passavam altas.
E todos estavam a dormir, a procissão demorava.
Mas Florzinha persistia em esperar.
E daí então num lampejo de trovão
Apareceu a procissão
Como se do além viesse desfilar
Longas velas seguravam em plena noite de luar
Florzinha curiosa num salto da janela à procissão foi se juntar
Nem à noite nem as rezas conseguiam lhe amedrontar
Sua curiosidade foi tamanha que ao cortejo foi se juntar
Pois precisava de uma prova da existência
Da procissão noturna que ninguém ouvira falar
E ao último integrante Florzinha sozinha venho a perguntar
-          De onde vem este cortejo? Que a ele quero me juntar.
Perguntou a menina moça que junto à procissão estava a andar.
Pois nem à noite nem as rezas conseguiam lhe amedrontar.
Do encapuzado o rosto não se via, só se escutava uma reza baixa em harmonia.
Insistentemente perguntou a menina novamente
Ao encapuzado misterioso na noite sombria estridente

A menina ficou para trás
O cortejo passou e nada foi esclarecido
Foi sumindo no véu negro da noite
Mas sua mente não parava de pensar
No cortejo misterioso que passava em noite de luar
E com ansiedade ela esperou a amiga noite retornar
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Uma noite muito sombria
Novamente ela viu se aproximar
A procissão noturna que baixinho passava a rezar
Muitos eram seus integrantes, e longas batinas negras a usar.
Longas velas seguravam em plena noite de luar
Nem à noite nem as rezas conseguiam lhe amedrontar
Pois sua curiosidade foi tamanha que ao cortejo ia se juntar
Mas dessa vez o último integrante Florzinha viu se aproximar
E apesar de curiosa sentia seu sangue congelar
E um medo aterrador dela venho se apossar
- Se tu entre nos queria, agora poderá estar, em nossa eterna busca aos espíritos
Perdidos das noites de luar.
A menina congelada nada conseguia falar
E o estranho encapuzado uma vela a ela foi entregar
Em sua mão quase descarnada que estava a segurar.

O cortejo passou e nada foi esclarecido
Foi sumido no véu negro da noite
Florzinha com a vela em suas mãos
Agora poderia provar
A existência procissão noturna
Que passava em noite de luar
Retomada alegremente guardou o seu presente
Em uma gaveta do armário.
Pois sabia que no dia poente agora poderia mostrar
Uma prova da existência da procissão noturna que passava em noite de luar.

Assim que o sol raiou imponente
Num salto Florzinha levantou-se rapidamente
E com extrema ansiedade sua prova na gaveta do armário foi pegar
Sua Mãe levou um susto quando ouviu grito aterrador da casa se apossar
E em direção ao quarto de Florzinha correndo foi verificar
De onde vinha este grito que a todos queria assustar.
Chegando lá amedrontada ela viu Florzinha caída desmaiada
E no chão do seu lado viu um osso de defunto jogado”.

A prova que Florzinha tanta queria venho dobrado, pois provara muito mais que a existência da procissão noturna.