Saudações tenebrosas...

Você ultrapassou o portal da realidade... Seja bem vindo(a) á um mundo onde os contos criam vida, mesmo quando falam de morte...

Sidney Leal

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

HOMBRIDADE

“Se tens hombridade e teme pelos seus pecados, nunca olhe no espelho.

Pois o preço pago será tal qual foi o seu desatino.

E serás julgado por um Juiz e dele não há como fugir ou se esconder.

Nem hoje, amanhã ou nunca. Pois ele se encontra escondido dentro do seu escuro e negro ser”.
                                                                                                      (Sidney Leal)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A VERDADEIRA TRISTEZA

“Às vezes eu sinto a tristeza, aquela de que tanto li a respeito.

Aquela que pode tocar as pessoas de forma intensa e profunda, tão profunda que são poucos os que conseguem se livrar de seus braços envolventes e seu toque acolhedor.

E eu não sei se sou um deles...

Dos sobreviventes da tristeza!

Não aquela que sentimos tanto no decorrer de nossas vidas.

Mas aquela que nos guia e nos leva até a morte”.
(Sidney Leal)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

EU

“Às vezes quando estou sozinho, chamo a tristeza para sentar e conversar comigo

Quando passa o tempo e percebo que ela sou eu, eu dou risada.

Ela decepcionada vai embora,

Porque sabe que por mais que eu seja ela,

Ela por ser ela não me domina,

Mas isso só me incrimina,

Por que submeto a menina a me servir sempre de pronto,

Isso às vezes me deixa tonto...

À mudança constante do meu modo de sentir”.
(Sidney Leal)

MEU PIOR INIMIGO EU MESMO – Parte I

“Contido dentro de cada ser, um lado obscuro, pouco desenvolvido se esconde. E a noite enquanto o corpo descansa, a mente fervilha, num borbulhar de pensamentos incessantes.

E então, o lado obscuro se projeta intensamente, e o que de dia é imoral, e insensato. A noite se torna plausível, possível, tátil, o medo e o perigo começam. As barreiras da realidade não existem mais, e nada nos protege de nós mesmos”.
(Sidney Leal)

MEU PIOR INIMIGO EU MESMO – Parte II

"...E então vinha ele, com seu rosto obscuro pela noite. Dele eu conhecia tudo, seus pensamentos eram claros para mim. Pois ele era eu, o meu algoz, o personagem sombrio que me seguia. E o preço da minha vida de pecados queria cobrar, não outro dia, não outra hora, mas naquele exato momento.

Sua arma? Enquanto corria pelas ruas e assustado eu olhava para trás, nada via empunhando em suas mãos. Então presumi que arma que seria utilizada seria o peso de minhas palavras, que foram usadas ao longo de minha vida. E que com tremenda violência serão jogadas sobre mim.
(Sidney Leal)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A SOMBRA

No jantar só estavam os dois, o homem e sua sombra, num silêncio sepulcral no casebre humilde. Numa mesa de canto esquecida uma vela solitária iluminava timidamente os dois enquanto sua chama dançava enlouquecida pelo soar do vento da janela semi-aberta. Sua luz precária iluminava o homem sentado e logo abaixo, refletida no chão frio sua sombra.

A sombra o olhava às vezes temerosa imaginando qual seria a reação em sua face indiferente, pensava consigo como agüentava viver perto de alguém neste ritmo triste silencioso tanto tempo?
Ele por sua vez distante, pensava em outras banalidades que a vida suburbana lhe provinha.

Ela olhava ao redor na casa humilde de poucos móveis, onde velas eram as opções para economia da energia, e pensava nas conquistas e as vitórias que sentia gritar em seu coração quando jovem, mas hoje ele...

Voltava novamente seu olhar para a figura cansada a sua frente. Nem família foi capaz de formar, filhos não possuía e amar!? Um grande amor nunca viveu, nunca sentiu o peito arder de paixão, ou por falta dele!

Estava cansava de escutar suas amigas, outras sombras, que riam e chacoteavam fazendo-lhe pouco caso, pois a boa sorte do destino as abençoara, as ligaram em seres que erravam, se aventuravam, amavam... Sem medo dos resultados, sem medo das desilusões, de peito aberto com uma longa história de experiências de vida.

Pobre sombra! Ela nada tinha, passava a vida sendo arrastada de lá pra cá sem atenção, sem ser notada, nem um bom dia ou boa noite sombra! Que bom que está aí sombra! Pensava no desperdício existencial que era sua vida, pois poderia oferecer mais, muito mais; Poderia lhe oferecer o ombro para chorar as tristezas da vida, o sorriso para parabenizar suas vitórias, o coração de sombra para lhe fazer um carinho quanto triste estivesse... Sentia-se negada, destratada, anulada á apenas seguir se arrastando no ritmo morto de seus passos, silenciosa...

Aquela situação era por demasiado injusta! Não devia ele ter o direito de viver todas às aventuras da vida, ele devia ser apenas “a sombra”, pois sim! Ele concerteza não se importaria em seguir moribundo, uma pessoa; Ele concerteza não se questionaria de seu triste fim... Ah! Mas se fosse com ela, as coisas seriam diferentes...

Novamente venho o silêncio.

Ele mastigava indiferente, os movimentos automáticos de sua mandíbula geravam um barulho irritante, que a exasperava. Asco que emergia de sua tristeza e que lhe ouriçava os sentidos.

A sombra com a cabeça entre as mãos se derretia em lágrimas que lhe escorriam pela face sem forma, assim como o seu coração triste naquele momento.
De repente ela levantou se erguendo com convicção, decidida, com as costas das mãos trêmulas enxugou o que lhe restara de tristeza da face negra, presa como estava esticou-se o mais que pode até chegar ao interruptor, e num último suspiro lançou um olhar de despedida ao vazio daquele ser... E acendeu a luz.
(Sidney Leal)

EU CORTEI A FACA E ME CORTEI COM O PÃO...

“Eu cortei a faca e me cortei com o pão. Mil gotas de sangue espalhadas no chão. Nada faz sentido... Caindo olho para o céu do desalento onde não sai do pensamento meu descontentamento com minha história cinza e sem segmento. Mas eu tento me enganar ao contento, e seguir enganado e enganando todos aqueles que falando do vazio passam por esta vida desmarcada, finita e degradada. Pois estes não sabem que tudo perece, acaba e apodrece. Que no fim nada fez sentido, e por que então seguir mentindo?

Eu cortei a faca e me cortei com o pão. Mil gotas de sangue espalhadas no chão. Nada faz sentido... Já faz horas que sigo neste dilema, sem saber que se esvaindo segue meu sangue seguindo o ritmo torto das tabuas tortas do chão onde piso, e onde hoje estou caído esperando que se esvaia neste mesmo pobre chão aquilo que para mim não faz sentido... Minha vida.

Eu cortei a faca e me cortei com o pão. Mil gotas de sangue espalhadas no chão. Nada faz sentido... Eu agora estou sorrindo, pois, nas batidas descompassadas de meu coração segue a loucura da minha satisfação eu já sinto o formigamento dos meus braços dormentes... É que aquele corte viscoso que antes era, um, agora se tornou dois... Passando para o outro pulso depois. E eu sinceramente não sei o que vem a seguir, mas mesmo assim estou sorrindo... Pois sei que pelo menos para mim, minhas dúvidas estão no fim, enquanto para os outros não”.
(Sidney Leal)

UMA VEZ... ELE ESCREVEU UM POEMA

“Uma vez... Ele escreveu um poema
E o chamou “Chops”,
Por que era o nome do seu cachorro, e
Isto era tudo de que ele tratava.
E o professor deu-lhe um “A”
E uma estrela dourada.
E sua mãe o afixou na porta da cozinha
E o leu para todas as tias dele.

Uma vez... Ele escreveu outro poema.
E chamou-o “Inocência Interrogativa”,
Porque este era o nome de seu pesar, e
Isto era tudo de que ele tratava.
E o professor deu-lhe um “A”
E um olhar estranho e firme.
E sua mãe nunca o afixou na porta da cozinha
Porque ele nunca o mostrou a ela...

Uma vez ás três da madrugada... Ele tentou outro poema
E o chamou-o de absolutamente nada, porque
Isto era tudo de que tratava.
E ele deu um “A” para si mesmo
E um corte em cada pulso viscoso,
E afixou o poema na porta do banheiro porque
Não pôde alcançar a cozinha”.

(Trecho do livro de Kay Redfield Jamison – QUANDO A NOITE CAI, Entendo o Suicídio)