Enquanto ouvia os gritos vindos da cozinha ele se escondia por entre o emaranhado de caixas de roupa do fundo do quarto, ficando de frente a um velho espelho caído no chão. O menino pegou o pequeno espelho que refletia seu rostinho de criança, refletia também através de seus olhos tristes a cruel realidade do frágil relacionamento daquela família, dos laços de sangue e dor que os uniam.
Os gritos que ouvia eram um misto de desespero e socorro, ora abafados pelas pancadas que recebia, ora agudos na explosão de dor dos flagelos que sofria.
Enquanto observava de longe esta cena via as mãos dela que se erguiam na esperança desamparada pelo socorro que não viria... O menino voltava seu olhar ao espelho e tremendo como estava se enregelara no sentimento de ódio, sobrepujado pelo medo e se escondia nas sombras da triste consciência de sua impotência.
Mas afinal o que poderia ele fazer contra quilo?
O que poderia ele fazer contra aquele ser que o colocara no mundo, mas se doce era no princípio – Nunca foi – Agora se transformara numa criatura irracional que agredia á aqueles que deveria proteger! Uma criatura vil, egoísta que triste talvez pelos seus fracassos da vida – Nunca saberemos – descontava em inocentes, naqueles que dele dependiam...
Ainda escondido com os olhos fechados sentia lágrimas silenciosas que lhe escoriam pela face pingando no espelho que ainda segurava firme, e então escutou um barulho seco!
Que era o corpo de sua Mãe que se chocara contra o chão... Abriu os olhos e viu que seu Pai ainda ensandecido, espumava ódio em pé ao lado do corpo inerte, seus olhos refletiam a ira da angústia e da dor. Sem motivo, sem causa, sem razão... Uma fera irracional.
Na sua mente de criança esta visão se congelara, se tornando uma lembrança triste que o marcara ao longo de sua vida no manicômio, mas nunca demonstrou isso ou qualquer outro sentimento.
Tudo por que ainda quando criança, naquela noite... Olhando o reflexo no espelho... Procurou por ajuda no fundo de seus olhos e encontrou uma chave para uma misteriosa porta...
E se guardou na segurança e no conforto de seu subconsciente e nunca mais voltou.
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