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ansado da obscuridade de seus sonhos ele decidiu acordar e abrir os olhos... No seu quarto tudo estava escuro e o arfar incessante de seu peito em busca desesperada por ar era incontrolável, sentia–se sufocado quase se afogando; Mas não em águas negras e geladas nas quais pudesse nadar e se salvar... E sim no tenebroso e obscuro pesadelo, repetitivo que tristemente tinha de passar todas as noites, daquele no qual não se podia fugir.
Agora acordado lutava ainda para manter–se vivo, buscando ajuda na escuridão um porto seguro para se apoiar e um pouco de ar para sugar para seus pulmões... Mas tudo era inútil, não conseguia respirar, não conseguia se mexer, não conseguia gritar por socorro!
Seria este o preço por fugir de sua cina? Que era a de ter de passar por aquele pesadelo sem fim, incessante todas as noites. O preço por ter se esgueirado por entre as frestas da imaginação e conseguido a consciência de que "se o sonho é seu você nele tudo pode!" Como temer aquilo que não se entende? Como entender aquilo que se teme? Perguntas e respostas insertas como aquele pesadelo que se tinha...
Com isto ainda em mente, num último fio de raciocínio, impotente diante de seu triste destino. Não conseguia respirar! Fechou os olhos e se entregou a sufocante morte que o queria, que com ele lutava e vencia um combate desigual... Que ansiava com paixão sua alma.
Mas derepente o ar aos poucos lhe retornava aos pulmões escassos, que de tão fadigados pela luta que travaram ainda não acreditavam no que ocorria e se esbaldavam como os esfomeados diante de farta refeição.
Seus pulmões de tão desesperados permitiam grande passagem de ar, o que lhe causava tosses fortes, roucas e compridas a ponto de chacoalhar seu corpo ainda inerte sobre a cama e encher seus olhos de lágrimas.
Enquanto tentava se acalmar um leve sorriso de alívio se formava em seu rosto, as batidas descompassadas de seu coração aos poucos se normalizavam... E ele agradecido tentou numa frase entrecortada agradecer ao salvador, aquele que lhe ouvira as preces...
Mas sua voz não saiu!
E esta consciência de vida trouxe á tona outra questão... Estava paralisado! Não se mexia, mesmo se sua vida dependesse disso – Como á pouco presenciou – Tentava sem sucesso mexer as mãos, braços e pernas, mas nada... Seu pescoço não mexia, estava congelado! Gritar era em vão, pois como antes constatado não tinha voz, conseguia falar e se ouvia em sua consciência, mas nada saia de sua boca que também não se mexia...
Já não era senhor de suas vontades, o desespero então retornara estava preso numa prisão sem muros! Onde mesmo o mais hábil dos ladrões – Se humano fosse – Não conseguiria escapar. Seus olhos percorriam com dificuldades o limitado espaço que lhe restara... E nada via além de seu escuro e pequeno quarto vazio, mais nada.
Sentia vontade gritar e assim o fez... Mas o som só era escutado por ele mesmo.
Isso era inacreditável! Poderia estar sonhando?
Poderia ainda estar preso dentro de seu pesadelo, que como se amaldiçoado fosse seguia num patamar sobrenatural de realidade capaz de ser descrito apenas nas mais absurdas das histórias... Dos contos de loucura sussurrados ao pé de ouvido dos internos do sanatório, no encontro das sombras nas noites mal iluminadas nos cantos escuros da casa ou nos contos assustadores do mestre Poe.
Uma triste condição de sofrimento talvez nunca sentida por outro homem – Que se tenha conhecimento, ao menos – Um flagelo incomunicável porque talvez não houvesse retorno, pois se algum ser humano nele tivesse entrado e por desespero se perdesse na linhas frágeis da fé se entregando a loucura!
Enlouqueceria sem resposta ou auxilio condenado á um pesadelo eterno. Talvez porque os mesmos já estivessem mortos.
E como faria ele para escapar?
Gritava e da sua boca saia o silêncio ensurdecedor do desespero, e no seu campo de visão só a escuridão o observava.
Seus olhos já acostumados ao breu que o envolvia, tentavam ver se ao menos a janela do quartinho estava aberta e se por ela era capaz de ouvir o som da realidade das ruas... E deste modo manter a sanidade, mas tudo estava quieto, num silêncio sepulcral... Contínua no livro 13 "Contos".
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