"Era a última pá de terra e eu estava cansado! Cravei a pá no amontoado de terra olhei aos céus como que buscando alivio. A lua refletia as gotas de suor sobre o cabo da ferramenta que serviu de instrumento de libertação de minha agonia, a pá estava suja de sangue e terra... A desolação do lugar entristecia ainda mais meu coração manchado pela dor da maldade, pelo crime que acabava de cometer, receoso dos castigos infligidos por aqueles que não conheciam minha dor – Ele mentiu! – Sentia latejar os calos da mão inexperiente sem a pratica do esforço que o trabalho braçal pedia. Sentei–me então naquele solo que deveria ser sagrado, pois nele descansam aqueles que um dia foram grandes homens. Sentado onde estava mesmo distante podia ver a sombra imponente do mausoléu de minha família. Eu estava no fundo cemitério no lado leste de sua distante entrada, num espaço mal cuidado reservado a indigentes e suicidas, contemplei a cova simples que abrigava aquele corpo, estava muito bom para ele.
Daquele que se foi, retirei apenas o pesado casaco de couro preto, comprado em Arco Verde, cujo maravilhoso acabamento seria melhor aproveitado por aqueles que ainda vivem; Além do que poderia oferecer alguma resistência a fome insaciável dos vermes daquele solo fértil, sorri satisfeito. A noite esfriava bruscamente, e o trabalho tinha terminado. Mas qual não foi minha surpresa quando ofegante, e pálido de terror vi iluminado pela claridade momentânea denunciadora dos relâmpagos inquisidores os pés descobertos de terra daquele que um dia chamei de irmão!.."
CONTÍNUA no livro: "13 Contos - Da Loucura e dos Sonhos" do escritor Sidney Leal
Nenhum comentário:
Postar um comentário