O Farol
Sidney Leal
Me
vi na escuridão e lá nada via ou sentia, perdido, absorto na escuridão de minha
mente. Caminhando por horas, ou dias, como saber ao certo? Seguia num sonho de
desenho indefinido, nada via, nada sentia... Ao longe surge um ponto brilhante,
mas fraco como minha esperança de acordar daquele pesadelo. Ia me aproximando e
seu brilho aumentava, me guiando para fora do breu de minha escuridão. Quando
ao longe distingui a figura imponente de um imenso farol, guia de barcos e
navios perdidos na imensidão do mar revolto. E soube então que estava no caminho
certo!
Já em seu interno subi os degraus, a
princípio temeroso, mas uma certeza de respostas para perguntas que eu ainda
não tinha, encheu meu coração de coragem e me vi subindo de dois em dois
aqueles degraus. Tudo ficava mais fácil pois agora batia minhas novas asas com
o vigor ansioso da curiosidade.
No
primeiro andar nada havia, dei um giro batendo forte as asas, enquanto sentia o
vento frio chicoteando minhas penas, ao redor apenas o silêncio vazio da noite.
Mas quando cheguei no segundo, pousei no alto do umbral daquela porta. Congelado
de movimento, estupefato, vi sentado numa cadeira de espaldar alto, a figura de
um homem em triste reflexão. Perdido em admiração a frente à janela onde
naquele céu de infinito escuro, uma Lua tímida, lutava pela soberania dos céus
com numerosas nuvens de tempestade.
-
Mister Poe? Perguntei num tom intimidado, confrontado pela presença do
Mestre.
-
Nunca mais! Respondeu polidamente, me surpreendendo pela compreensão das
palavras desconexas que eu grasnava.