“...Quando entrou no bar uma bela morena de
cabelos suavemente cacheados, Viera enlouqueceu! A mulher trazia em seus traços
a beleza e a cor das belas mulheres Brasileiras. Não daquelas pseudo-europeias,
magras, pálidas, esquálidas como uma porta, aqueles fantasmas que via nas
festas ricas que frequentava. Que tentavam sem sorte aquecer aquele coração
boêmio de Viera. Mas aquele dia, com aquela mulher tudo mudara, sentiu as
palpitações do coração acelerar, e num choque de lucidez se via todo amarrotado
pelo abuso dos dias e noites de festa.
–
Preciso te-la! Bradou com uma mão
a limpar os bigodes ainda sujos da recente refeição, e a outra a bater com
força a mesa onde se encontrava. A observou de longe, seguia seus passos e
temia perde-la de vista. Precisava se recompor, ou poderia assustar a mulher.
Saiu às pressas tropeçando nas mesas e cadeiras a sua volta, chegando no
banheiro viu as marcas da vida de loucuras, tatuadas em seu rosto, parecia bem
mais velho do que era realmente. Não se importou! Começou a lavar o rosto, molhando os cabelos
agitadamente. Mas sua imagem ficara embasada no espelho, passou a mão tentando
inutilmente limpar sua imagem... Entretanto o problema não era o espelho, e sim
ele, que se precipitava num desmaio repentino. Tentou sem sucesso, segurar na
quina da pia, mas a mesma serviu apenas para conter um pouco o choque de seu
rosto no chão. Desmaiou numa poça rasa de água e sangue.
Atordoado
tentou se levantar mais de uma vez, até achar uma quina da pia onde outrora
deixara um dos dentes, perdidos com a força de sua queda. Em pé ainda tonto,
via seu estado lastimável, o terno branco estava encardido, e no colarinho se
encontrava uma mistura viscosa de manchas de gordura da comida e sangue. Não se
importava! Passou água ligeiramente nos cabelos e no rosto, notou vários
cabelos longos e cacheados enroscados nos botões de sua camisa, cheiravam a
mulher e vela. Ignorou aquilo, pois pode ter se enroscado em muitas raparigas
aqueles dias. E saindo do banheiro procurou pela presença da misteriosa morena
do vestido vermelho. Ninguém soube dizer seu paradeiro, o dono do boteco o
velho português, o observava com curiosidade sentindo o cheiro forte de velas
emanando de sua roupa suja.
Quando Viera saiu do bar era noite, na rua
uma multidão ainda dançava entoando marchinhas frescas de carnaval, os blocos
que passavam eram os dos bonecos de Olinda, com suas armações de madeira com
mais de três metros de altura, bonecos caricatos de celebridades, políticos e
artistas. Era muita movimentação, e Viera ainda sentia uma leve zonzeira lhe
fraquejar as pernas. Quando em meio à multidão viu seus olhos brilhantes, possesso
se embrenhou em meio ao mar de gente lutando para se aproximar daquela morena.
Quando mais se aproximava, mais o brilho transluzia daqueles olhos castanhos,
que de tão claros, faziam questionar a origem daquela bela mulher. Ela indiferente,
rodopiava fazendo esvoaçar o curto vestido vermelho, dançando sensualmente,
seduzindo todos os homens ao seu redor enquanto acariciava os cabelos
fazendo-os esvoaçar suavemente.
Ela girava - Todos ali a olhavam com desejo
e cobiça – Girava! - Viera enlouquecido de ciúmes se sentia impotente perante a
multidão de homens que se acotovelavam tentando se aproximar da mulher – Girava!
- Quando um dos homens mais excitado a agarrou! Viera sem pestanejar se
desvencilhou da algazarra, e o derrubou com um soco certeiro.
Ela ria - Num êxtase de prazer aterrador. Temendo
a fúria da multidão – Ria! - Viera a colocou nos ombros e saiu derrubando todos
a sua frente – Ria! - Eram muitas pessoas na rua. Já distante a colocou no chão
puxando-a com força pela mão. A mulher ainda ria perdidamente, numa gargalhada
alta de louca satisfação. Chegaram numa beco escuro e Viera exausto finalmente
parou.
–
Do que está rindo diaba de minha vida? Ofegante
sussurrou.
–
Quem disse que sou sua, petisco de minha eternidade? Sorriu a mulher passando os dedos estranhamente
longos nos lábios de Viera; Que totalmente insano a tomou em seus braços,
rasgando seu vestido com os dentes, baixando suas calças e a possuindo num
desejo louco que nunca sentira! Ela tomada de prazer babava uma gosma de saliva
enquanto cravava suas unhas nas costas de Viera, rasgando tecido de sua roupa
suja, e a pele de seu corpo. O Homem gritou assustado! Mas estava perdido na
loucura do sexo e de seus prazeres, selvagem, insano!
Ela agora passava suavemente as unhas - que
agora cresciam mais - nos mamilos do homem, fazendo-o urrar como um animal! Enquanto
ela lambia as finas linhas de sangue que escorriam...
CONTINUA
no livro: “13 Contos – Da Loucura e dos Sonhos” do escritor Sidney Leal
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