Saudações tenebrosas...

Você ultrapassou o portal da realidade... Seja bem vindo(a) á um mundo onde os contos criam vida, mesmo quando falam de morte...

Sidney Leal

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sussurros da Noite...: Aos novos leitores...

Sussurros da Noite...: Aos novos leitores...: "... Acho que a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações da vida, e um dos modos de elevação do ser...

Aos novos leitores...

"... Acho que a literatura, tal como as artes plásticas e a música, é uma das grandes consolações da vida, e um dos modos de elevação do ser humano sobre a precariedade da sua condição".
                                                                                                                  (Antologia Poética - Carlos Drummond de Andrade)

Sussurros da Noite...: A PAEAN

Sussurros da Noite...: A PAEAN: “Morreste! E era só junho para tua alma! Ah! Não devias perecer tão linda! Tu não podias perecer ainda, morrendo assim tão calma’”. ...

A PAEAN


“Morreste! E era só junho para tua alma! Ah! Não devias perecer tão linda! Tu não podias perecer ainda, morrendo assim tão calma’”.
                                                                          (Edgar Allan Poe)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cicatrizes

Em suas lágrimas de ressentimento
Me afogo na tristeza da incompreensão
E mesmo sendo em teus olhos que as lágrimas brotem
Mergulho na decepção de seu olhar
Sentindo em meu peito o coração fraco e apertado

Pois seus olhos refletem minha incapacidade
De poder falar aquilo que a tempos pensava
Aquele sentimento forte que segurava em meu peito
A vaidade me cegava e eu seguia te enganando
Mas se a ti decepcionei
Refleti e para mim o baque foi maior
Pois fraco de vontade segui enganando e enganado
A vontade de abraçar a todos era maior
Mas se meu abraço era tão grande porque deixei você escapar de mim.

                                                                                             (Sidney Leal)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Procissão Noturna


“... Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.”
Gregório de Matos

       
“Procissão Noturna”

S
empre a noitinha no leito de seus filhos sonolentos as mães cantam velhas cantigas, sussurradas pelo vento. Uma delas muita antiga se referia ao contento a vida de uma menina moça na idade de casar, que de dia vivia a dormir sem nada fazer do trabalho do lar. E na noite brilhante manhosa levantava ela jocosa, a se debruçar na janela grande de madeira lustrosa. A história assustadora que lhe contarei agora começa do início do já foi outrora, pois como todas as lendas vêm e vão, com esta não seria diferente. Sempre acrescentam, ou retiram nos disseres do povo fatos que não lhe são convenientes. Então vamos começar de novo o que a noite sussurrou pra gente:


“Florzinha, Florzinha, moça nova pouco vivida.
Bem tratada e bonita.
Dormia de dia, e acordava a noite.
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Em casa nada fazia,
Só escutava sem atenção sua Mãe a reclamar
À noite quando não farreava nada fazia.
Sua Mãe cansava de avisar
Florzinha, Florzinha, está na hora de casar.
De casa nada sabia, e isso não a preocupava.
Só queria à noite acordar
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar

Uma noite muito sombria
Ela viu se aproximar
Uma procissão misteriosa que baixinho estava a rezar
Muitos eram seus integrantes, e longas batinas negras a usar.
Longas velas seguravam em plena noite de luar
E assim curiosa só queria à noite acordar.
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Da procissão ninguém nada sabia,
Inclusive uma tia pediu a Florzinha que se benze-se
Porque com os seres da noite não se deve brincar.
Mas ela nem se importava e
Noite após noite, ela ficava a observar.
A procissão noturna que baixinho passava a rezar
Longas velas seguravam em plena noite de luar.

Certa noite, as horas já passavam altas.
E todos estavam a dormir, a procissão demorava.
Mas Florzinha persistia em esperar.
E daí então num lampejo de trovão
Apareceu a procissão
Como se do além viesse desfilar
Longas velas seguravam em plena noite de luar
Florzinha curiosa num salto da janela à procissão foi se juntar
Nem à noite nem as rezas conseguiam lhe amedrontar
Sua curiosidade foi tamanha que ao cortejo foi se juntar
Pois precisava de uma prova da existência
Da procissão noturna que ninguém ouvira falar
E ao último integrante Florzinha sozinha venho a perguntar
-          De onde vem este cortejo? Que a ele quero me juntar.
Perguntou a menina moça que junto à procissão estava a andar.
Pois nem à noite nem as rezas conseguiam lhe amedrontar.
Do encapuzado o rosto não se via, só se escutava uma reza baixa em harmonia.
Insistentemente perguntou a menina novamente
Ao encapuzado misterioso na noite sombria estridente

A menina ficou para trás
O cortejo passou e nada foi esclarecido
Foi sumindo no véu negro da noite
Mas sua mente não parava de pensar
No cortejo misterioso que passava em noite de luar
E com ansiedade ela esperou a amiga noite retornar
Para em sua janela debruçar... Sem saber o que procurar
Uma noite muito sombria
Novamente ela viu se aproximar
A procissão noturna que baixinho passava a rezar
Muitos eram seus integrantes, e longas batinas negras a usar.
Longas velas seguravam em plena noite de luar
Nem à noite nem as rezas conseguiam lhe amedrontar
Pois sua curiosidade foi tamanha que ao cortejo ia se juntar
Mas dessa vez o último integrante Florzinha viu se aproximar
E apesar de curiosa sentia seu sangue congelar
E um medo aterrador dela venho se apossar
- Se tu entre nos queria, agora poderá estar, em nossa eterna busca aos espíritos
Perdidos das noites de luar.
A menina congelada nada conseguia falar
E o estranho encapuzado uma vela a ela foi entregar
Em sua mão quase descarnada que estava a segurar.

O cortejo passou e nada foi esclarecido
Foi sumido no véu negro da noite
Florzinha com a vela em suas mãos
Agora poderia provar
A existência procissão noturna
Que passava em noite de luar
Retomada alegremente guardou o seu presente
Em uma gaveta do armário.
Pois sabia que no dia poente agora poderia mostrar
Uma prova da existência da procissão noturna que passava em noite de luar.

Assim que o sol raiou imponente
Num salto Florzinha levantou-se rapidamente
E com extrema ansiedade sua prova na gaveta do armário foi pegar
Sua Mãe levou um susto quando ouviu grito aterrador da casa se apossar
E em direção ao quarto de Florzinha correndo foi verificar
De onde vinha este grito que a todos queria assustar.
Chegando lá amedrontada ela viu Florzinha caída desmaiada
E no chão do seu lado viu um osso de defunto jogado”.

A prova que Florzinha tanta queria venho dobrado, pois provara muito mais que a existência da procissão noturna.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Insônia...


INSÔNIA

“Calor, calor, calor...
Calor, um calor enlouquecedor e eu suava “bicas” olho para o relógio com seu tic-tac enlouquecedor e vejo para meu terror que ainda era madrugada.
Fico me mexendo na cama da loucura não achando uma posição á altura de meu sono perdido. Inquietação! Com o travesseiro não encontro uma posição na cama dura um velho colchão que só faziam aumentar meu tormento.
Calor...
Oh maldito sejas pernilongo usurpador! Pois como se não bastasse meu sangue a roubar ainda tenho de agüentar seu zunido de vitória.  E isso só aumenta meu total desalento, como se não bastasse meu sofrimento com este calor. Ainda isso!
No quarto apenas a vela acessa e um relógio sobre a mesa me fazia companhia nesta minha agonia. Pois afinal onde estava o dia que me negava seu aparecimento e que me livraria deste tormento.
Acompanho descompassado o minuto no relógio atrasado da loucura, e com isso fico contente, pois para mim as horas passam diferentes dos outros. Desta forma são poucos que se sentem aludidos pelo calor e persuadidos pelo terror da solidão da insônia.
Calor, calor, calor...”
          (Sidney Leal)

sábado, 27 de agosto de 2011

UMA VEZ... ELE ESCREVEU UM POEMA


“Uma vez... Ele escreveu um poema
E o chamou “Chops”,
Por que era o nome do seu cachorro, e
Isto era tudo de que ele tratava.
E o professor deu-lhe um “A”
E uma estrela dourada.
E sua mãe o afixou na porta da cozinha
E o leu para todas as tias dele.

Uma vez... Ele escreveu outro poema.
E chamou-o “Inocência Interrogativa”,
Porque este era o nome de seu pesar, e
Isto era tudo de que ele tratava.
E o professor deu-lhe um “A”
E um olhar estranho e firme.
E sua mãe nunca o afixou na porta da cozinha
Porque ele nunca o mostrou a ela...

Uma vez ás três da madrugada... Ele tentou outro poema
E o chamou-o de absolutamente nada, porque
Isto era tudo de que tratava.
E ele deu um “A” para si mesmo
E um corte em cada pulso viscoso,
E afixou o poema na porta do banheiro porque
Não pôde alcançar a cozinha”.

(Trecho do livro de Kay Redfield Jamison – QUANDO A NOITE CAI, Entendo o Suicídio)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Sussurros da Noite...: Romances, Contos e Poesias de Terror Nacionais...

Sussurros da Noite...: Romances, Contos e Poesias de Terror Nacionais...: " A escrita do Mestre Machado de Assis, não se limita á apenas a literatura que é mais divulgada. Existem contos do mestre que são de arre..."

Romances, Contos e Poesias de Terror Nacionais...

   A escrita do Mestre Machado de Assis, não se limita á apenas a literatura que é mais divulgada. Existem contos do mestre que são de arrepiar, e mostram um Machado livre de "cabrestos" literários que infelizmente o marcam. Entre estes contos cito apenas alguns: "A Igreja do Diabo"(conto mais cômico); "Vida Eterna" e "A Causa Secreta". 

   Ele entre outros autores como por exemplo o Mestre Alvares de Azevedo com o seu inesquecível conto "Noite na taverna" e suas poesias tristes e reflexivas. Não podemos deixar de fora também o Mestre Aluísio Azevedo, com seu conto fantástico "Demônios", que apesar do nome é de uma criatividade e de uma escrita sem igual, lembrando que falamos de um texto escrito em 1891! Entre outros Mestres da Literatura aqui não citados. 
   
   Hoje em dia quem escreve histórias de terror fica tachado, descriminalizado. Existem bons textos de terror e poesias, que além de agradar aos adeptos do gênero, surpreendem pelo alto nível da qualidade do texto e da escrita. Ostento esta bandeira e defendo os bons contos de terror! Viva a Literatura Nacional!

Leia mais livros de autores Nacionais, tem muita gente boa por aí...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

“Catalepsia Projetiva”


C
ansado da obscuridade de seus sonhos ele decidiu acordar e abrir os olhos... No seu quarto tudo estava escuro e o arfar incessante de seu peito em busca desesperada por ar era incontrolável, sentia–se sufocado quase se afogando; Mas não em águas negras e geladas nas quais pudesse nadar e se salvar... E sim no tenebroso e obscuro pesadelo, repetitivo que tristemente tinha de passar todas as noites, daquele no qual não se podia fugir.
            Agora acordado lutava ainda para manter–se vivo, buscando ajuda na escuridão um porto seguro para se apoiar e um pouco de ar para sugar para seus pulmões... Mas tudo era inútil, não conseguia respirar, não conseguia se mexer, não conseguia gritar por socorro!
            Seria este o preço por fugir de sua cina? Que era a de ter de passar por aquele pesadelo sem fim, incessante todas as noites. O preço por ter se esgueirado por entre as frestas da imaginação e conseguido a consciência de que "se o sonho é seu você nele tudo pode!" Como temer aquilo que não se entende? Como entender aquilo que se teme? Perguntas e respostas insertas como aquele pesadelo que se tinha...
Com isto ainda em mente, num último fio de raciocínio, impotente diante de seu triste destino. Não conseguia respirar! Fechou os olhos e se entregou a sufocante morte que o queria, que com ele lutava e vencia um combate desigual... Que ansiava com paixão sua alma.
            Mas derepente o ar aos poucos lhe retornava aos pulmões escassos, que de tão fadigados pela luta que travaram ainda não acreditavam no que ocorria e se esbaldavam como os esfomeados diante de farta refeição.
Seus pulmões de tão desesperados permitiam grande passagem de ar, o que lhe causava tosses fortes, roucas e compridas a ponto de chacoalhar seu corpo ainda inerte sobre a cama e encher seus olhos de lágrimas.
            Enquanto tentava se acalmar um leve sorriso de alívio se formava em seu rosto, as batidas descompassadas de seu coração aos poucos se normalizavam... E ele agradecido tentou numa frase entrecortada agradecer ao salvador, aquele que lhe ouvira as preces...
            Mas sua voz não saiu!
            E esta consciência de vida trouxe á tona outra questão... Estava paralisado! Não se mexia, mesmo se sua vida dependesse disso – Como á pouco presenciou – Tentava sem sucesso mexer as mãos, braços e pernas, mas nada... Seu pescoço não mexia, estava congelado! Gritar era em vão, pois como antes constatado não tinha voz, conseguia falar e se ouvia em sua consciência, mas nada saia de sua boca que também não se mexia...
            Já não era senhor de suas vontades, o desespero então retornara estava preso numa prisão sem muros! Onde mesmo o mais hábil dos ladrões – Se humano fosse – Não conseguiria escapar. Seus olhos percorriam com dificuldades o limitado espaço que lhe restara... E nada via além de seu escuro e pequeno quarto vazio, mais nada.
Sentia vontade gritar e assim o fez... Mas o som só era escutado por ele mesmo.
            Isso era inacreditável! Poderia estar sonhando?
Poderia ainda estar preso dentro de seu pesadelo, que como se amaldiçoado fosse seguia num patamar sobrenatural de realidade capaz de ser descrito apenas nas mais absurdas das histórias... Dos contos de loucura sussurrados ao pé de ouvido dos internos do sanatório, no encontro das sombras nas noites mal iluminadas nos cantos escuros da casa ou nos contos assustadores do mestre Poe.
            Uma triste condição de sofrimento talvez nunca sentida por outro homem – Que se tenha conhecimento, ao menos – Um flagelo incomunicável porque talvez não houvesse retorno, pois se algum ser humano nele tivesse entrado e por desespero se perdesse na linhas frágeis da fé se entregando a loucura!
Enlouqueceria sem resposta ou auxilio condenado á um pesadelo eterno. Talvez porque os mesmos já estivessem mortos.
E como faria ele para escapar?
Gritava e da sua boca saia o silêncio ensurdecedor do desespero, e no seu campo de visão só a escuridão o observava.
            Seus olhos já acostumados ao breu que o envolvia, tentavam ver se ao menos a janela do quartinho estava aberta e se por ela era capaz de ouvir o som da realidade das ruas... E deste modo manter a sanidade, mas tudo estava quieto, num silêncio sepulcral... Contínua no livro 13 "Contos".

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Dama do Espelho

“Quem não quer ver malucos
Deve quebrar espelhos”.
Voltaire
           

“A Dama do Espelho”

    "Estava frio naquele início de noite, e uma chuva torrencial como a muito não era vista caia violentamente. O restaurante do pequeno hotel já iniciara o jantar, quando um novo hóspede adentrou ruidosamente a recepção. O homem de pouco mais de cinqüenta anos de cabelos ralos e totalmente grisalhos, de guarda-chuva nas mãos, tirava sua casaca preta. Enquanto se refazia do frio da noite, registrava-se e como estava apenas com uma pasta de documentos de couro, com sua chave nas mãos seguiu para o restaurante para o jantar. Logo após satisfeito, mas cansado do dia que tinha tido, subiu calmamente estreito jogo de escadas que o levavam ao seu quarto, perdeu alguns momentos procurando o “217” conforme estava identificada sua chave, o corredor também era estreito de madeira pouco iluminado de um verniz escuro dificultava a leitura dos números semi apagados pintados nas portas.
O hotel não era dos melhores, mas devido o mau tempo e como a noite já tivesse iniciado decidiu por bem pousar aquela noite ali mesmo.
Pensava na somatória de eventos inesperados que o levaram até ali... Chegou àquela cidade pela manhã para resolver pendências de propriedade e lei, e como a cidade lhe trazia amargas recordações de um passado que a muito tentava esquecer; Apressava-se em resolver tudo e voltar para a capital.
Embora soubesse que não podia esquecer os fatos do passado, pois estavam tatuados em sua alma. E até geraram uma vida. Um filho.
Pensava na sua condição na data do acontecido, e via hoje aonde chegara, o que o fazia sentir menos culpa é que sempre enviava via depósito no banco central, ou através de um procurador de confiança os acertos financeiros para que nada faltassem a aqueles que ele deixou para trás no tempo.
No final do dia tendo dado por definido suas questões, encaminhou-se para a estação para providenciar a compra da passagem no expresso para o retorno, mas devido a um acidente conseguinte do mau tempo, as viagens seriam adiadas para o outro dia pela manhã. E por este motivo todos os hotéis do lugar estavam lotados de viajantes incautos que pegos de surpresa pousariam na cidade também. O único lugar com vagas foi aquele hotelzinho de esquina com um “Mollin Rouge” na sua esquerda, e com o cemitério das almas pela direita – talvez fosse este o motivo da vaga que restava – O fato é que restava apenas aquele quarto o Duzentos e Dezessete, como se tivesse de ser ali – Sorriu sozinho da bobagem de pensamento que lhe passou pela cabeça.
            Abrindo a porta de seu quarto perdeu alguns instantes analisando o lugar... Um quarto pequeno de paredes forradas com papel, possuía duas pequenas luminárias nas suas extremidades, as velas já estavam acessas – Provavelmente enquanto jantava adiantavam-se no preparo de seu leito – Uma cama bastante sólida devo dizer de um colchão razoável de molas. Um criado mudo com um pequeno jarro de água – De bom gosto até, nada mal pensava ele – Mas o que chamou a atenção era que perto da janela se encontrava um majestoso espelho ovulado, grande, emoldurado de madeira de jacarandá com um pedestal também de madeira que tornava possível a sua utilização. Seguiu rapidamente para a janela, pois, a mesma estava semi-aberta e os gotejos da tempestade teimavam em molhar o piso próximo a ela, fechando-a notou que a vista era de vale gramado com construções de pedra que... Limpado os olhos pode ver que se tratava do velho cemitério das almas, essa descoberta o arrepiou.
            Por isso só restava este quarto! Pensou alto enquanto fechava a pequena janela.
Na frente do espelho uma poltrona confortável com uma mesinha e uma abajur – para leitura provavelmente – Trancou a porta e jogando de lado a pasta, tratou de se recostar um pouco na cama.
Ficou assim por alguns instantes, mas quando fechava os olhos as imagens de “antes” lhe voltavam, e conflitavam com as imagens do “depois”. Durante muito tempo tentou inutilmente dormir, mas não conseguiu.
Decidiu então levantar-se e ler alguma coisa; Sentando na poltrona, na procura por distração inspecionava a gaveta da mesinha do abajur, estava vazia, a não ser por um envelope lacrado por cera num brasão antigo por ele desconhecido. E o mais estranho, no remetente estava escrito seu nome!
Ao abrí-lo revelou-se uma letra muito bem feita nos seus detalhes, mas desconhecida da sua lembrança. E já na leitura da primeira linha arrepiou-se por inteiro, afastando o sono que a pouco lhe acompanhava... Contínua no livro 13 "Contos".

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Sexta-Feira 13

   Caros amigos hoje dia 13 de Maio é comemorada a Abolição da Escravatura no Brasil, uma data histórica que marca uma importante vitória pela luta contra o preconceito racial marcada por muito sangue. Em 1879, um grupo de parlamentares lançou oficialmente a campanha pela abolição da escravatura. Foi uma resposta a crescente onda de agitações e manifestações sociais pelo fim da escravidão. 
   Saindo do contexto histórico, hoje também é Sexta-feira 13, um dia comum para as pessoas comuns... Mas não para os aficionados em cinema  e literatura fantástica. para marcar o dia de hoje estou postando um trecho de um conto escrito por mim "Corpo Seco - Histórias de Mistério, Terror e Morte". Por favor não esqueçam de deixarem seus comentários.
Saudações Tenebrosas!


“Pestis eram vivus – moriens tua mors ero”.
Vivendo era teu açoite – morto, serei tua morte.
Martinho Lutero


“Corpo Seco”

Enquanto viajava de Maria Fumaça um sentimento escondido no peito vem a tona discreta e inquietantemente, era a saudade de casa que me tocava, enquanto perdido em devaneios me deliciava com a paisagem que se impunha imponente ao redor dos trilhos. Com a janela aberta sentia o vento carregado com o vigor da juventude, já fazia quase de dez anos desde que fui enviado para a capital para estudar em escola de padre, para então posteriormente cursar a faculdade de direito. Mesmo já formado, não conseguia conter a ansiedade de chegar em casa e dependendo de como for estava pronto para iniciar minha carreira por ali mesmo. Por que não?
Chegando a estação, meu pai já me esperava com um escravo, o desembarque foi rápido com sutis demonstrações de carinho e afeto por parte dele, mas seus olhos brilhantes com lágrimas começavam a germinar, a cena me comoveu muito... Ele já de barba branca se apoiava em uma bengala, com um sorriso amistoso me saudava. Na viagem de charrete até o sítio, meu Pai contava-me as novas do lugar, quem casou quem morreu quem nasceu. Fatos que não pude compartilhar devido minha ausência.
Papai franzia a testa enquanto me relatava sua maior preocupação, era um boato que rondava os pés de café da fazenda assustando os negros em período de colheita, lamentava estar velho e não poder percorrer em vigilância o perímetro da fazenda. E me atribuía esta tarefa.
É necessário ter energia meu filho, encontrar a raiz deste boato e acabar com ele de uma vez por todas! Dizia ele com veemência.
Tudo há seu tempo meu Pai, tudo há seu tempo. Com o um sorriso saudoso lhe respondi tapeando suavemente suas costas. Chegando a casa grande fui saudado por todos os empregados da fazenda, entre eles estava a BA Dolores que já idosa com lágrimas carinhosas corria a me abraçar. A negra alta e forte me apertou com força junto ao seu colo. Foi um fim de tarde cheio de saudades e carinhos.
Logo no início da noite de banho tomado e barriga cheia, com o acompanhamento de uma boa cachaça – Que não tinha igual em nenhum lugar da capital – Conversávamos eu e Papai sobre o tal infortúnio na lavoura. Quanto mais me contava, mais apreciava estes “causos” de superstição, bobageira sem pé nem cabeça. E ria descrente.
Quanto perguntei se alguém já tinha visto a visagem maligna, soube que um dos negros o tinha visto e descrevia que a criatura se tratava do amaldiçoado Tenório, que vagava em agonia pelos pés de café e as matas da região. Quando escutei o nome, petrifiquei, senti como se o chão me faltasse.
As lembranças de infância retornavam agora, e se chocavam brutalmente sob mim, em minha realidade de advogado, de homem formado. Neste lampejo lembrei-me de minha infância, Mamãe, do negrinho Tuca e de seu destino cruel. Foram segundos, mas quando retornei a mim, Papai olhava-me com preocupação. Totalmente refeito, disse-lhe que pela manhã estaria cuidando pessoalmente do assunto, pedi sua benção e fui dormir “estava cansado da viagem”.
A noite era longa... Me perdia em pensamentos que em vertigem logo se transformaram em pesadelos que permeavam minha cabeça de tristes e dolorosas lembranças; Receios do passado misturados com os temores do futuro rondavam-me como uma insistente nuvem, que de tão nebulosa envolvia-me de modo que eu não encontrasse mais a saída. Decidi em meio ao suor que escorria em minha testa, levantar-me para beber água e olhando para além da janela no horizonte escuro além do cafezal prometi tirar a limpo esta história de uma vez por todas!
Pela manhã na mesa era evidente em meu rosto que não dormira bem, comi um pouco. Quando Papai se sentou, pedi a ele um negro para a empreitada que eu iria começar, selaram um cavalo e partimos rumo ao desconhecido.
Depois de algum tempo puxei assunto com Biano – Era esse o nome do negro que me acompanhava – Mas ele demonstrou demasiada preocupação com a crescente neblina que se acentuava em nosso redor naquela manhã fria, parece que não escutou minhas palavras. Andamos mais de uma hora quando finalmente escutamos um barulho vindo em nossa direção, os cavalos pararam de imediato, estavam inquietos a ponto derrubar-nos, foi difícil manter-se na sela. Nada se via além do breu daquela assustadora manhã. Pensei em engatilhar a carabina que trazia comigo, mas qual era o alvo? Para atirar em quem ou em o quê? Biano me olhava indagando-me, como se eu tivesse a resposta para tamanho disparate, a névoa nos envolvia em um abraço tenebroso.
Quando meu cavalo empinou jogando-me no chão, e foi no chão que vi os cavalos e o negro fugirem em desembestada corrida mata a fora. Acho que desmaiei por instantes, pois quando acordei estava sozinho no meio dos pés de café do lado sul da fazenda. Engatilhei a carabina que estava ao meu lado no chão, e me pus em posição de defesa. O cafezal parecia coberto por uma espessa camada de algodão nada se podia ver amenos de um palmo de distância, decidi seguir em direção ao nada, ao desconhecido. Tentava me nortear de alguma forma, mas minha visão estava limitada, não enxergava o sol, não enxergava nada... Pés e mais pés de café que aos poucos surgiam á frente. Um labirinto no cafezal. Sentindo o sentimento de desespero se apossar de mim, comecei a andar sem sentido definido, pela nevoa seguindo apenas o extinto.
De repente um calafrio me correu a espinha, escutei o barulho de galhos secos se quebrando como se algo ou alguém se aproximasse. Coloquei-me em posição de ataque em desespero procurava a fonte do barulho.
Biano é você? Controlando o desespero gritei..."

Sidney  Leal

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sussurros da Noite...: "A Fuga"

Sussurros da Noite...: "A Fuga": " Enquanto ouvia os gritos vindos da cozinha ele se escondia por entre o emaranhado de caixas de roupa do fundo do quarto, ..."

"A Fuga"

    Enquanto ouvia os gritos vindos da cozinha ele se escondia por entre o emaranhado de caixas de roupa do fundo do quarto, ficando de frente a um velho espelho caído no chão. O menino pegou o pequeno espelho que refletia seu rostinho de criança, refletia também através de seus olhos tristes a cruel realidade do frágil relacionamento daquela família, dos laços de sangue e dor que os uniam.
            Os gritos que ouvia eram um misto de desespero e socorro, ora abafados pelas pancadas que recebia, ora agudos na explosão de dor dos flagelos que sofria.
            Enquanto observava de longe esta cena via as mãos dela que se erguiam na esperança desamparada pelo socorro que não viria... O menino voltava seu olhar ao espelho e tremendo como estava se enregelara no sentimento de ódio, sobrepujado pelo medo e se escondia nas sombras da triste consciência de sua impotência.
            Mas afinal o que poderia ele fazer contra quilo?
            O que poderia ele fazer contra aquele ser que o colocara no mundo, mas se doce era no princípio – Nunca foi – Agora se transformara numa criatura irracional que agredia á aqueles que deveria proteger! Uma criatura vil, egoísta que triste talvez pelos seus fracassos da vida – Nunca saberemos – descontava em inocentes, naqueles que dele dependiam...
            Ainda escondido com os olhos fechados sentia lágrimas silenciosas que lhe escoriam pela face pingando no espelho que ainda segurava firme, e então escutou um barulho seco!
            Que era o corpo de sua Mãe que se chocara contra o chão... Abriu os olhos e viu que seu Pai ainda ensandecido, espumava ódio em pé ao lado do corpo inerte, seus olhos refletiam a ira da angústia e da dor. Sem motivo, sem causa, sem razão... Uma fera irracional.
            Na sua mente de criança esta visão se congelara, se tornando uma lembrança triste que o marcara ao longo de sua vida no manicômio, mas nunca demonstrou isso ou qualquer outro sentimento.
            Tudo por que ainda quando criança, naquela noite... Olhando o reflexo no espelho... Procurou por ajuda no fundo de seus olhos e encontrou uma chave para uma misteriosa porta...
            E se guardou na segurança e no conforto de seu subconsciente e nunca mais voltou.
            
            

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Íntimo...

"Mas aquele que esconde uma alma escura e terríveis pensamentos,

Tenebroso, caminha sob o sol do meio dia,

É ele mesmo sua própria masmorra..."

John Milton

Poema: Eu Amo a Noite

“...Amo os lampejos verde-azuis, funéreos,

Que às horas mortas erguem-se da terra

E enchem de susto o viajante incauto

No cemitério de sombria serra...”

Fagundes Varela

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

SORRISO DE CRIANÇA

“...Quando perguntou quanto lhe custaria um sorriso para a criança...

A criança lhe sorriu espontaneamente;

E só então ele percebeu que não tinha o suficiente para pagar pelo carinho”.
(Sidney Leal)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ESCREVO Á NOITE...

“Quando no vazio das ideias me perco.

Quando na obscuridade do silêncio me refugio.

Fico assim em devaneios perdido por longas horas a fio.

Quando dou por mim muitas horas se passaram...

A noite chegou!

Quando aguço minha audição, ouço ruídos, vozes, lamentação.

São os Sussurros da Noite chamando-me a atenção.

Então escrevo a noite!

Pois é na escuridão silenciosa que a dama geniosa da inspiração permiti-se descrever.

Mas o silêncio não é pleno!

Os Sussurros da Noite são tão audíveis que fico surpreso que poucos os escutem...”.
(Sidney Leal)