Saudações tenebrosas...

Você ultrapassou o portal da realidade... Seja bem vindo(a) á um mundo onde os contos criam vida, mesmo quando falam de morte...

Sidney Leal

domingo, 28 de outubro de 2012

"O Barqueiro"


            "... Sob o brilho de uma lua cheia misteriosa que de repente surgiu após a chuva, regressava triste pensava em tudo que me aconteceu, ao longe a cidade estava vazia e somente às luzes dos poucos postes estavam acesas, perdi a noção do tempo. Admirando a noite observava a lua recente que ainda lutava com algumas poucas nuvens pela soberania do céu... Aproximando-me da margem observei uma figura que me causou espanto! Incrédulo esfreguei os olhos podia estar aturdido pelo cansaço, mas com a proximidade da margem confirmei sua identidade... Era ela! A linda dama, que agora trajava um manto negro – Não tinha certeza, mas parecia-me seda – que com o toque dos ventos e o banho da fraca luz do poste, brilhava. Estaria perdida na noite? A madrugada já se iniciara – Estava sozinha – mesmo as trevas não conseguiam esconder seus encantos, e confesso que tive que me conter para ali mesmo não cair de joelhos e confessar o meu amor. Se recíproco fosse tamanho sentimento meu coração não se conteria de felicidade.
            Seu caminhar era tão delicado que quase não marcava a areia. Olhou-me com seriedade, e mesmo com o véu negro sobre o rosto pude perceber um leve sorriso amistoso em sua face. Estirou a braço para que a ajudasse subir na canoa – Sua mão estava gelada – Perguntei se o destino era o mesmo do outro dia e num gesto respondeu-me sim.
                As águas agora estavam calmas, muito calmas. O silêncio era quebrado apenas pelos ruídos da noite, a dama nada falava sempre com o olhar fixo no infinito. A escuridão era tamanha que quase não a enxergava, pois de costas para mim só podia vê-la quando refletindo a lua seu manto negro brilhava. Um sentimento bisbilhoteiro de medo aos poucos se fez sentir arrepiando-me por completo. Ela misteriosamente virou-se para a mim e calmamente disse:
        - O que temes? Porque o sentimento quente da paixão que a pouco sentia abraçando meu corpo e que emanava de seu peito, refreia agora pelo medo?..."
CONTINUA no livro: "Minhas Histórias de Mistério, Terror & Morte".

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

MEU PIOR INIMIGO EU MESMO – Parte II


     "...E então vinha ele, com seu rosto obscuro pela noite. Dele eu conhecia tudo, seus pensamentos eram claros para mim. Pois ele era eu, o meu algoz, o personagem sombrio que me seguia. E o preço da minha vida de pecados queria cobrar, não outro dia, não outra hora, mas naquele exato momento. 

     Sua arma? Enquanto eu corria pelas ruas e assustado olhava para trás, nada via empunhando em suas mãos. Então presumi que arma que seria utilizada seria o peso de minhas palavras, que foram usadas ao longo de minha vida. E que com tremenda violência serão jogadas sobre mim".
Sidney Leal                                                                                                                                                   

domingo, 21 de outubro de 2012

"Um belo lugar para se visitar"

"...Sr.Percival sorriu de um modo estranho, e em sua mente não existia mais confusão ou dúvida, se refez enxugando o rosto, ajeitando a gravata. O bater da porta de entrada da sala de seu chefe o fez sorrir, fez um esforço considerável para não gargalhar – esforço tamanho que foi notado por Jorge.
– Fico feliz que esteja refeito. – Quase não dava para enxergar em meio a quantidade de fumaça do charuto que fumava.
– Percival, meu velho! Por Deus! Quanto tempo nos conhecemos hein!? Fiz um balanço de sua carreira aqui na empresa, e generosamente decidi não demiti–lo – Percival não olhava diretamente para Jorge Rimonte, seu olhar se concentrava em um objeto brilhante pendurado na parede.
– Mas sabe como é uma empresa, preciso fazer economia e você está velho. Por Deus, tenho que otimizar... – As palavras do velho se perderam no silêncio da loucura, pois a mente de Percival a muito se esvaecia na linha tênue da realidade. Apenas quando aquela criatura pronunciava "Deus" os ouvidos de Percival latejavam. Lembrava–se de todos os processos, traições. Aquela criatura não poderia tocar no nome de Deus!
Dirigiu–se ao velho de mente doente, que ostentava na parede atrás de sua mesa uma grande cruz de prata, que, dizia ele, fora abençoada pelo próprio Papa. Percival então sorriu e ciente que tinha o dever cristão de propagar a palavra de Deus – sob os olhos assustados de seu chefe –, pegou a pesada cruz, cujos braços terminavam finos e brilhantes como se fossem lâminas... E cravou no peito de Jorge Rimonte!
E, sorrindo, tinha a certeza de que Deus havia agora lhe tocado o coração..."
Continua no livro: "13 Contos"

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"Feliz aniversário Papai"

"...E em meio às ameaças de Romualdo, Otacílio levanta-se e vai pagar a “maldita” aposta que havia feito. Ao pular a janela do quarto que dava para os fundos do quintal, sentiu o vento gelado do início da madrugada. Ele não sabia ao certo se o frio que sentia se dava pelo vento que às vezes batia com força em seu rosto, somado pelo tecido fino do pijama de Romualdo que usava e que pouco o protegia; Ou se o frio lhe cortava a espinha de uma forma que jamais havia sentido era Medo. Com certeza era isso, já tinha se afastado da casa, Romualdo ainda acenava com mão como se disse se “vai logo moleque!”. Seus pais, pelo menos aparentemente, não escutaram nada. Olhando para estrada de terra batida sob a luz do luar, tudo lhe soava sombrio, as casas as árvores de beira de estrada, e as corujas...
- Deus me defenda bicho agourento! Praguejou Otacílio fazendo o sinal da cruz. Andou alguns minutos, e já se encontrava no início do canavial, um terreno de propriedade de uma família muito rica da capital que pouco aparecia por ali, a área era tão grande que tinha sido dividida em quatro partes que foram batizadas pelos populares da “encruzilhada do canavial”. O local despertava o medo dos moradores e principalmente das crianças, já tinha servido de fuga para gente da pior espécie, ladrões e etc, gente supersticiosa dizia inclusive que nas noites de luar se escutava vindo do canavial os gritos das vítimas. Mas o que realmente amedrontava as crianças, era a justificativa encontrada pelos velhos em relação ao aparecimento de galinhas, ovelhas, e bezerros, mortos depois de um ataque de um animal feroz. Diziam eles, ser coisa de lobisomem. Criatura amaldiçoada meio homem, meio lobo que perambulava nas noites de lua cheia pelo vilarejo. A verdade é que realmente nos últimos meses este tipo de ocorrência tem sido muito freqüente, todos estavam assustados. E com isso em mente estava Otacílio seguindo pelo canavial em direção à encruzilhada. O menino tremia muito, e nesta altura tinha certeza de que não se tratava de frio, o medo realmente o havia dominado, andava cada vez mais rápido, e com desconfiança olhava para os lados, para trás, quase se escutava seu coração batendo de forma desordenada em seu peito. Finalmente chegou ao local – No centro da encruzilhada – Ajoelhou-se desesperado a fim de encontrar logo o lugar onde havia sido enterrado o crucifixo. Imaginava que seria fácil de encontrá-lo, pois imaginara ele que a terra estaria ainda amontoada. Mas via agora que no lugar havia vários montes de terra! Como se tivessem enterrado mais coisas, não entendia o que... Pensou... Romualdo lhe aprontou aquilo para que desistisse e voltas-se com as mãos vazias, sem ter como provar que esteve na encruzilhada.
        - Bicho safado! Vou mostrar pra ele! Depois de ter feito o quarto buraco, os ânimos de Otacílio começavam a esmorecer, estava cansado, e o esforço lhe começava a dar sono, uma nuvem preguiçosa encobria a lua. Um brilho em um dos montes de terra lhe chamou a atenção, e lá estava finalmente o bendito crucifixo de prata! Quando um estalo o assustou. O sono deu lugar ao medo, outro estalo, como se alguém andasse no meio dos pés de cana, Otacílio caiu para trás com o susto, a lua voltava a iluminar a noite, quando viu em meio às canas um vulto enorme..."
Continua no livro: Minhas Histórias de Mistério, Terror & Morte" 

sábado, 13 de outubro de 2012

"Na escuridão do Ser"

"... Aquilo era inaceitável! Como um estabelecimento que se preze permite que um som dos infernos destes Incomode seus hospedes? Ali não dormiria mais! E decidido apressadamente arrumei minha pequena mala e me dirigi para a escada que dava acesso a porta do estabelecimento, devia passar das duas da manhã – horário dos mortos – É incrível como o ódio cega às pessoas, pois, desde criança ao passar das nove da noite, não me movia de meu leito nem se o próprio Dom Pedro II em carne, barba e osso aparecesse em meu quarto... Dei por mim já na escadaria da pousada, sua forma oval que percorria uma das paredes laterais dava um toque de grandiosidade ao lugar. Decerto não encontraria nenhum funcionário do estabelecimento; Decidi então sair por conta própria, deixaria alguns poucos trocados, nem dormira nem comera no lugar, portanto me via neste direito... Passando pela recepção deixei sobre o balcão as chaves de meu quarto junto com o dinheiro, e me dirigi apressadamente á porta de entrada. E como suspeitava a mesma se encontrava fechada. Um leve calafrio deslizou por minha espinha... Um frio sutil que se formava na base da nuca e descia até o meu temeroso coração, que demonstrava o início de um descontrole rítmico em seus batimentos..."
Continua no livro:  "Minhas Histórias de Mistério, Terror & Morte"

domingo, 7 de outubro de 2012

"Corpo Seco"

"... Em determinada parte a névoa se abria como se desse passagem á figura de um homem que me parecia ser de idade avançada, pois o mesmo caminhava se arrastando com dificuldade, tentei aguçar a visão para ver quem vinha em minha direção... Foi quando vi a figura de uma face morta, que era quase uma caveira com a pele fina muito colada, de um amarelo que contrastava com a névoa branca que a envolvia. Seus olhos não tinham movimento nem brilho. Ambos os beiços se lhe arreganhavam num sorriso empedernido. Dentre os dentes muito brancos, surdia uma ponta de língua muito negra. Não pude conter o terror e o asco que sentia a princípio, mas quando reconheci no morto à figura com quem tive anos de pesadelos tortuosos..."
CONTINUA no livro: "Minhas Histórias de Mistério, Terror & Morte"

terça-feira, 2 de outubro de 2012

"Minha inconcebível presença"


"... Abro os olhos novamente! E estou no mesmo lugar onde eu havia caído, levanto-me rapidamente assustado e descubro que a dor cessara misteriosamente restando apenas uma marca roxa.
– Estou morto? Olhando ao redor vejo que tudo tem um tom fosco negro, as árvores, o céu escuro e sem lua, de uma forma inexplicável minhas roupas adquiriram este mesmo tom. Um vento gelado cortava o ar impiedosamente, e me gelava a espinha. Quando, com dificuldade vi meu cavalo, que parado á alguns metros me lançava um olhar frio e assustador, em seus olhos não se via o brilho da vida, ao invés disso o que se via agora era um tom cinza opaco. A estrada continuava deserta, tremendo tentei me aproximar do cavalo, ele por sua vez demonstrava inquietação.
– Calma amigo vamos descobrir juntos o que está acontecendo. O cavalo deu a entender que não estava muito feliz com a situação, depois de um coice que por sorte me passou raspando, decidi então desistir do animal e prosseguir a pé.
– É assim que me trata! Então vá siga seu caminho! Gritei para o bicho. Andei alguns metros e olhando para trás reparei que o animal me seguia, quando parava ele parava, quando voltava a andar ele também andava.
– Raios! Mais o que este bicho quer afinal? Depois de algum tempo me seguindo consegui finalmente dobrar o bicho, em sinal de agradecimento fiz uma carícia, e me assustei quando senti que o cavalo estava gelado! Gelado como uma rocha. Mas sem alternativas, me fiz de indiferente lá fomos nós pela estrada escura seguindo pela noite sem luar onde as trevas imperavam soberanas. Margeando a estrada o que se via me assustava, todas pequenas casas que encontrava pelo caminho estavam em ruínas, como se há muito tempo a pessoas tivessem fugido do local, nenhum animal nos pastos, homens, mulheres e muito menos crianças. Simplesmente eu não entendia o que estava acontecendo, onde eu estava afinal? Cavalguei quase uma hora e nada de civilização. Até que uma imagem fantástica a minha frente...
Ao longe via se duas colinas, uma iluminada pelo brilho radiante do sol e céu estava azul e limpo, na outra colina o céu estava no mesmo tom negro em que eu me encontrava não se via nada além da desolação das trevas. A estrada se dividia e cada caminho seguia em direção a uma dessas paisagens, de longe na posição onde me encontrava a visão era bela e assustadora, diminui o passo do cavalo e na divisa da estrada, vi que a neblina negra que dominava os céus tinha origem em uma figura estranha.
Era um homem de pele branca de feições assustadoras, bem trajado com um terno branco com uma flor seca na lapela, um chapéu bem alinhado da mesma cor do terno. O que me chamou a atenção é que estava descalço e seus pés estavam sujos de lama até a altura da canelas. Fumava um bonito cachimbo de madeira, de onde saia uma fumaça negra intensa, tão intensa que alimentava toda a escuridão da noite. A figura entre uma e outra bitada ergueu a cabeça sem muito interesse, seus olhos não possuíam brilho, e eram de um negro tenebroso, sua voz cortou minha alma..." 
Contínua no livro: Minhas Histórias de Mistério, Terror e Morte"