"...Sr.Percival sorriu
de um modo estranho, e em sua mente não existia mais confusão ou dúvida, se
refez enxugando o rosto, ajeitando a gravata. O bater da porta de entrada
da sala de seu chefe o fez sorrir, fez um esforço considerável para não
gargalhar – esforço tamanho que foi notado por Jorge.
– Fico feliz que
esteja refeito. – Quase não dava para enxergar em meio a quantidade de fumaça
do charuto que fumava.
– Percival, meu
velho! Por Deus! Quanto tempo nos conhecemos hein!? Fiz um balanço de sua
carreira aqui na empresa, e generosamente decidi não demiti–lo – Percival não
olhava diretamente para Jorge Rimonte, seu olhar se concentrava em um objeto
brilhante pendurado na parede.
– Mas sabe como
é uma empresa, preciso fazer economia e você está velho. Por Deus, tenho que
otimizar... – As palavras do velho se perderam no silêncio da loucura, pois a
mente de Percival a muito se esvaecia na
linha tênue da realidade. Apenas quando aquela criatura pronunciava
"Deus" os ouvidos de Percival latejavam. Lembrava–se de todos os
processos, traições. Aquela criatura não poderia tocar no nome de Deus!
Dirigiu–se ao
velho de mente doente, que ostentava na parede atrás de sua mesa uma grande
cruz de prata, que, dizia ele, fora abençoada pelo próprio Papa. Percival então
sorriu e ciente que tinha o dever cristão de propagar a palavra de Deus – sob
os olhos assustados de seu chefe –, pegou a pesada cruz, cujos braços
terminavam finos e brilhantes como se fossem lâminas... E cravou no peito de
Jorge Rimonte!
E, sorrindo,
tinha a certeza de que Deus havia agora lhe tocado o coração..."
Continua no livro: "13 Contos"
Continua no livro: "13 Contos"
Nenhum comentário:
Postar um comentário