"...E em meio às ameaças de Romualdo,
Otacílio levanta-se e vai pagar a “maldita” aposta que havia feito. Ao pular a
janela do quarto que dava para os fundos do quintal, sentiu o vento gelado do
início da madrugada. Ele não sabia ao certo se o frio que sentia se dava pelo
vento que às vezes batia com força em seu rosto, somado pelo tecido fino do
pijama de Romualdo que usava e que pouco o protegia; Ou se o frio lhe cortava a
espinha de uma forma que jamais havia sentido era Medo. Com certeza era isso,
já tinha se afastado da casa, Romualdo ainda acenava com mão como se disse se “vai
logo moleque!”. Seus pais, pelo menos aparentemente, não escutaram nada. Olhando para estrada de terra
batida sob a luz do luar, tudo lhe soava sombrio, as casas as árvores de beira
de estrada, e as corujas...
-
Deus me defenda bicho agourento! Praguejou Otacílio fazendo o sinal da cruz. Andou alguns minutos, e já se
encontrava no início do canavial, um terreno de propriedade de uma família
muito rica da capital que pouco aparecia por ali, a área era tão grande que
tinha sido dividida em quatro partes que foram batizadas pelos populares da “encruzilhada
do canavial”. O local despertava o medo dos moradores e principalmente das
crianças, já tinha servido de fuga para gente da pior espécie, ladrões e etc,
gente supersticiosa dizia inclusive que nas noites de luar se escutava vindo do
canavial os gritos das vítimas. Mas o que realmente amedrontava as crianças,
era a justificativa encontrada pelos velhos em relação ao aparecimento de
galinhas, ovelhas, e bezerros, mortos depois de um ataque de um animal feroz.
Diziam eles, ser coisa de lobisomem. Criatura amaldiçoada meio homem, meio lobo
que perambulava nas noites de lua cheia pelo vilarejo. A verdade é que realmente nos
últimos meses este tipo de ocorrência tem sido muito freqüente, todos estavam
assustados. E com isso em mente estava Otacílio seguindo pelo canavial em
direção à encruzilhada. O menino tremia muito, e nesta altura tinha certeza de
que não se tratava de frio, o medo realmente o havia dominado, andava cada vez
mais rápido, e com desconfiança olhava para os lados, para trás, quase se
escutava seu coração batendo de forma desordenada em seu peito. Finalmente chegou
ao local – No centro da encruzilhada – Ajoelhou-se desesperado a fim de
encontrar logo o lugar onde havia sido enterrado o crucifixo. Imaginava que
seria fácil de encontrá-lo, pois imaginara ele que a terra estaria ainda
amontoada. Mas via agora que no lugar havia vários montes de terra! Como se
tivessem enterrado mais coisas, não entendia o que... Pensou... Romualdo lhe
aprontou aquilo para que desistisse e voltas-se com as mãos vazias, sem ter
como provar que esteve na encruzilhada.
- Bicho safado! Vou
mostrar pra ele! Depois de ter feito o quarto buraco, os ânimos
de Otacílio começavam a esmorecer, estava cansado, e o esforço lhe começava a
dar sono, uma nuvem preguiçosa encobria a lua. Um brilho em um dos montes de
terra lhe chamou a atenção, e lá estava finalmente o bendito crucifixo de
prata! Quando um estalo o assustou. O sono deu lugar ao medo, outro estalo,
como se alguém andasse no meio dos pés de cana, Otacílio caiu para trás com o
susto, a lua voltava a iluminar a noite, quando viu em meio às canas um vulto
enorme..."
Continua no livro: Minhas Histórias de Mistério, Terror & Morte"
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