No jantar só estavam os dois, o homem e sua sombra, num silêncio sepulcral no casebre humilde. Numa mesa de canto esquecida uma vela solitária iluminava timidamente os dois enquanto sua chama dançava enlouquecida pelo soar do vento da janela semi-aberta. Sua luz precária iluminava o homem sentado e logo abaixo, refletida no chão frio sua sombra.
A sombra o olhava às vezes temerosa imaginando qual seria a reação em sua face indiferente, pensava consigo como agüentava viver perto de alguém neste ritmo triste silencioso tanto tempo?
Ele por sua vez distante, pensava em outras banalidades que a vida suburbana lhe provinha.
Ela olhava ao redor na casa humilde de poucos móveis, onde velas eram as opções para economia da energia, e pensava nas conquistas e as vitórias que sentia gritar em seu coração quando jovem, mas hoje ele...
Voltava novamente seu olhar para a figura cansada a sua frente. Nem família foi capaz de formar, filhos não possuía e amar!? Um grande amor nunca viveu, nunca sentiu o peito arder de paixão, ou por falta dele!
Estava cansava de escutar suas amigas, outras sombras, que riam e chacoteavam fazendo-lhe pouco caso, pois a boa sorte do destino as abençoara, as ligaram em seres que erravam, se aventuravam, amavam... Sem medo dos resultados, sem medo das desilusões, de peito aberto com uma longa história de experiências de vida.
Pobre sombra! Ela nada tinha, passava a vida sendo arrastada de lá pra cá sem atenção, sem ser notada, nem um bom dia ou boa noite sombra! Que bom que está aí sombra! Pensava no desperdício existencial que era sua vida, pois poderia oferecer mais, muito mais; Poderia lhe oferecer o ombro para chorar as tristezas da vida, o sorriso para parabenizar suas vitórias, o coração de sombra para lhe fazer um carinho quanto triste estivesse... Sentia-se negada, destratada, anulada á apenas seguir se arrastando no ritmo morto de seus passos, silenciosa...
Aquela situação era por demasiado injusta! Não devia ele ter o direito de viver todas às aventuras da vida, ele devia ser apenas “a sombra”, pois sim! Ele concerteza não se importaria em seguir moribundo, uma pessoa; Ele concerteza não se questionaria de seu triste fim... Ah! Mas se fosse com ela, as coisas seriam diferentes...
Novamente venho o silêncio.
Ele mastigava indiferente, os movimentos automáticos de sua mandíbula geravam um barulho irritante, que a exasperava. Asco que emergia de sua tristeza e que lhe ouriçava os sentidos.
A sombra com a cabeça entre as mãos se derretia em lágrimas que lhe escorriam pela face sem forma, assim como o seu coração triste naquele momento.
De repente ela levantou se erguendo com convicção, decidida, com as costas das mãos trêmulas enxugou o que lhe restara de tristeza da face negra, presa como estava esticou-se o mais que pode até chegar ao interruptor, e num último suspiro lançou um olhar de despedida ao vazio daquele ser... E acendeu a luz.
(Sidney Leal)
"... Quando aguço minha audição, ouço ruídos, vozes, lamentação. São os Sussurros da Noite chamando-me a atenção. Então escrevo a noite! Pois é na escuridão silenciosa que a dama geniosa da inspiração permiti-se descrever. Mas o silêncio não é pleno! Os Sussurros da Noite são tão audíveis que fico surpreso que poucos os escutem...”.
Saudações tenebrosas...
Você ultrapassou o portal da realidade... Seja bem vindo(a) á um mundo onde os contos criam vida, mesmo quando falam de morte...
Sidney Leal
Ótima escrita..., todos nós já tivemos momentos de querer acender a Luz também... Mas no final são só palavrões...
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