"...
Pedro e Ana formavam um casal humilde, semianalfabeto, trabalhavam e planejavam
o futuro na jovem capital, que prosperava a passos penosos. Alugaram com muito
custo um casebre afastado do rebuliço do porto, próximo à praia. E lá moravam. Para
Pedro estar com Ana finalmente, era uma vitória incomparável, todas as
provações que os dois tiveram de suportar para finalmente se casarem foram
enfim recompensadas. Vieram então lembranças da noite de núpcias, em sua
primeira noite no casebre... Da pequena janela podia–se ver o mar e sua
grandiosidade. O quadro de amor não poderia ser mais bem descrito. Ele trazia
consigo um segredo revelado por seu Pai e que veio de seu avô, pois a origem
daquela família vinha do além mar. O avô de seu Pai era um marinheiro português
que numa de suas viagens aos portos da Inglaterra foi atacado por matilha de
lobos selvagens, sobreviveu, mas este encontro lhe rendeu um ferimento que
mesmo depois de cicatrizado sangrava de tempos em tempos, os sangramentos
geravam febre e alucinações. O pobre miserável só não morreu em sua última
viagem por sorte, pois ficava largado nos porões úmidos do navio, sem alimento
e medicação adequada. Os dias eram febris e as noites por uma pequena claraboia
ficava extasiado admirando a Lua. Os marinheiros que o viam a noite se
assustavam, diziam que seus olhos adquiriam um leve tom avermelhado e que entrava
em transe, como se a Lua lhe hipnotizasse, foi abandonado à própria sorte no
jovem Brasil.
Com isso em mente Pedro acordou! Ruborizado
viu que o amuleto estava sobre a mesa. Acalmando-se ao observar que banhados ao
Luar os olhos verdes da jovem Ana cintilavam de Paixão. O toque de sua pele morena,
macia despertava os sentidos incontroláveis de desejo, o furor explodia no
peito de seu amado. Pedro sentia–se prestes a perder o controle. De repente uma
taquicardia, o ritmo descompassado de seu coração o fazia suar frio, estava sem
ar!
Sua esposa a principio controlada e
complacente começou a se assustar, pois no brilho da Lua cheia que imperava no
céu, os olhos de Pedro ganhavam um tom avermelhado de fúria e dor. Ele sentia seus
ossos estralarem, uma queimação em todo corpo, desesperado perdia o controle
sobre a maldição que quase o afastou de seu amor, mas a vitória seria dele.
Pois agora possuía o amuleto antigo poderoso que evitava sua maldição. Levantou–se
espavorido a procura dele, meio tonto sentia que a qualquer momento poderia se...
–
Onde está! Onde está? Gritava o rapaz transtornado, com a
expressão de dor estampada em sua face pálida. Em meio ao desespero a vista
ficou turva, e tonto caiu sobre a mesa em cima do amuleto! Ana recuperada do
susto inicial, ciente da maldição de seu esposo, correu e pegou o amuleto
colocando–o nas mãos trêmulas de Pedro, que agora rangia os dentes falando
coisas desconexas. O toque gelado do metal antigo em sua pele queimava, fazendo–o
tremer, enregelara dos pés a cabeça muito rápido, agonizava no chão de madeira
do casebre, enquanto Ana chorava copiosamente num canto escuro do lugar..."
CONTINUA no
livro "13 Contos" do escritor Sidney Leal.
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